Tratados

Ainda o judaísmo político norte-americano

O debate em torno da ideologia inerente à comunidade judaica nos EUA continua. Depois do extraordinário ” The Failure of the American Jewish Establishment“, que Peter Beinart escreveu no último número da New York Review of Books (que referi aqui), e do ping-ping que desenvolveu com Abraham Fox aqui e que será publicado na edição de 24 de Junho, Stephan Glain publica um interessante artigo na Majalla de Junho, que pode ser integralmente descarregada aqui. Em “J Street vs AIPAC”, defende que “a geopolitical war is on for the soul of Jewish America, and it is asymmetrical”. Vale a pena ler na íntegra.

Os princípios aqui defendidos, e aplicados ao caso da batalha naval de Gaza, podem ser vistos resumidamente numa passagem deste post de Ross Douthat em Evaluations, o seu blog do New York Times:

“And this is where the Jewish state’s admirers in the United States have a constructive role to play. Not by offering the kind of phony, “we’re Israel’s real friends because we regularly denounce it as horrible and evil and blame it for all the problems in U.S. foreign policy” critiques that Stephen Walt, John Mearsheimer and Co. specialize in, but by raising and re-raising the strategic issues that Israel’s government seems incapable of contending with at the moment — and by declining to automatically bless every decision made by Israeli politicians just because Hamas is evil (…).

Junho 9, 2010 Posted by | Sem categoria | , , , | Deixe um comentário

Comunidade Judaica nos EUA – onde está a moderação?

Morally, American Zionism is in a downward spiral. If the leaders of groups like AIPAC and the Conference of Presidents of Major American Jewish Organizations do not change course, they will wake up one day to find a younger, Orthodox-dominated, Zionist leadership whose naked hostility to Arabs and Palestinians scares even them, and a mass of secular American Jews who range from apathetic to appalled. Saving liberal Zionism in the United States—so that American Jews can help save liberal Zionism in Israel—is the great American Jewish challenge of our age.

The Failure of the American Jewish Establishment. Excelente artigo na New York Review of Books de Peter Beinart sobre a comunidade judaica nos Estados Unidos. A imagem mostra uma manifestação em frente à sede da AIPAC (The American Israel Public Affairs Committee – America’s pro-Israel Lobby) durante o seu congresso anual. Quem protesta? A associação Neturei Karta – Jews United Against Zionism. A moderação está algures no meio, presente em mentes lúcidas com a do autor do texto. É preciso ouvirmos essas vozes.

Maio 19, 2010 Posted by | Sem categoria | , | 1 Comentário

Dizem que Ahmedinejad era judeu

Ahmedinejad judeuEsta de o Ahmadinejad vir de uma família com antepassados judaicos é hilariante. Aguardam-se desmentidos, mas não há dúvida que tem a sua piada. Diz o Daily Telegraph que esta foto, tirada em Março de 2008 num acto eleitoral, em que o Presidente iraniano mostra o seu documento de identificação, demontra “claramente” que provém de uma família com antepassados judaicos. Nele pode ler-se que o seu apelido era Sabourjian, um nome judeu que significa “tecelão”, apelido este que foi alterado para Ahmedinejad após o seu nascimento, quando a família se converteu ao Islão. Pelos vistos a alteração do nome já tinha sido confirmada pelo próprio, embora sem referir qual o nome original. O apelido Sabourjian consta da lista de nomes reservados aos judeus iranianos pelo Ministério do Interior, e refere-se exclusivamente aos judeus de Aradan, a região de onde o Presidente é originário.

Já se sabe da imaginação prodigiosa de alguns jornais britânicos. Mas sabe-se também que a estupidez humana pode ter as mais inusitadas origens. Enfim.

Foto: Daily Mail

Outubro 8, 2009 Posted by | 1 | , | Deixe um comentário

Yom Kippur em Telavive

MIDEAST ISRAEL YOM KIPPURÉ uma sensação muito estranha e agradável passear pelo centro das ruas sem carros de Telavive,  com pessoas a conversar nos cruzamentos e toda a gente a pé, de bicicleta, de patins, a preencher o espaço deixado livre de carros e motas. Tudo o que dá vida à cidade está rigorosamente fechado – lojas, cafés, restaurantes. E, nas ruas menos movimentadas, é de facto uma enorme sensação de paz e uma atmosfera única. O Yom Kippur, celebrado hoje, dez dias após o Ano Novo Judaico, é um momento de purificação, seja dos pecados, seja do que se quiser. Os judeus não comem nem bebem, e os mais ortodoxos não escrevem, não acendem luzes, não criam.

Por um lado, estas pausas, profundas quebras na agitação da cidade, mostram-nos que é possível parar por completo. Nem que seja por um dia (há vários dias assim ao longo do ano). E isso ajuda a relativizar muitas das nossas ansiedades, dando-lhes uma diferente espiritualidade. Mas ao mesmo tempo revela uma das muitas contradições de um país que vive sob padrões ocidentais mas onde a religião é transversal à sociedade. Um país onde não é possível apanhar um autocarro durante o sabbath (que vai do pôr-do-sol de sexta feira ao pôr-do-sol de sábado), e que assume como capital uma cidade – Jerusalém – onde metade dos homens que se vê nas ruas são religiosos profissionais, que sustentam as suas famílias com um salário pago pelo Estado para rezar e estudar os textos sagrados.

Israel tem 61 anos e cresceu assim, e por muita estranheza que, por vezes, desperte, irá continuar da mesma forma.

(Imagem: therecord.blogs.com)

Setembro 28, 2009 Posted by | 1 | , | Deixe um comentário

Sereníssimo “Ghetto”

venice12Apesar das muitas transformações negativas sofridas nos anos mais recentes, a Antena 2 continua a ser, muitas vezes, a melhor rádio para se ouvir. Aprendi ontem no Questões de Moral, sobre Veneza, que a palavra “ghetto” surgiu na sequência de um acontecimento ocorrido em 1516, quando as autoridades venezianas publicaram um edital em que se obrigava a população judaica da República a recolher os seus bens e abandonar as suas casas para se concentrar num novo bairro numa zona mais afastada do centro. Essa nova zona isolada ficava na área onde se fundia o metal para fabricar os canhões e restante armamento. Em dialecto veneziano, a essa actividade chama-se “ghettar”, e então esse novo bairro foi ganhando esse nome (ver mais informações aqui).

Basta ter as mínimas noções de história para saber que Hitler não inventou nada. Antes de Varsóvia, Cracóvia e tantos outros casos, houve Veneza – e tantos outros casos.

Agosto 11, 2009 Posted by | Sem categoria | | Deixe um comentário

Ontem e hoje

Sobre a lógica do sionismo e as suas consequências hoje

“É interessante constatar que o sionismo não reconhece um povo israelita. Continua a falar de um ‘povo judeu’. Por conseguinte, nem o nacionalismo árabe nem o sionismo reconhecem o facto de ter nascido, no Médio Oriente, uma sociedade, uma cultura que, podemos mesmo dizer, tem um língua. Daí resulta que não há um cinema judaico, mas um cinema israelita. Não há um teatro judaico, mas um iídiche. Não há uma literatura judaica, mas uma literatura israelita. Porque trata tão mal o sionismo a sua criação?”

Sobre a complexa equação cidadania vs identidade em Israel

“A minha tese, que demonstra que os judeus são plurais, com uma incrível riqueza de origens, é contraditória com a política identitária de Israel. Em Israel, temos um regime profundamente antidemocrático, que não procura servir a sociedade, mas a etnia judaica espalhada pelo mundo, ou seja, não é um Estado dos israelitas. Não se diz que Israel pertence aos israelitas. De modo algum. Pertence mais a Alain Finkielkraut e Bernard Henri-Lévy do que ao meu colega da universidade que nasceu em Nazaré (nota: cidade maioritariamente árabe). Esta contradição profunda da cidadania israelita vai fazer o país estoirar e contraria todas as razões históricas que avancei no meu livro. Em Israel, sublinhar que judeu é uma etnia define um Estado que não é ‘democrático’, mas ‘etnocrático’.”

O historiador israelita Shlomo Sand em entrevista ao L’Humanité, em Abril, reproduzida no número de Junho do Courrier Internacional – Portugal.

Junho 20, 2009 Posted by | Sem categoria | , | Deixe um comentário