Tratados

Portugal, emigração, meritocracia

Óptimo artigo de Joana Gorjão Henriques no Guardian sobre Portugal, a nova vaga de emigração e outras questões sociais. Este excerto é totalmente certeiro:

A side effect of our Roman Catholic heritage is that we aren’t very good at praising people for their successes and rewarding merit. Portuguese elites are suspicious and small; they are distant from the rest of the population, which in turn does not trust them either (…). We have problems with words like meritocracy and competitiveness, seen as part of a vocabulary used by capitalists or by over-achievers.

O texto termina com uma conclusão interessante: saindo muita gente que se integra numa geração jovem e qualificada, muita mais gente fica que terá de adaptar-se às dificuldades e encontrar as suas próprias soluções. Esta vaga de emigração abre espaço a uma geração mais auto-suficiente, mais curiosa e menos cheia de mimos. Muito bem.

Janeiro 11, 2011 Posted by | Sem categoria | | 3 comentários

Pela primeira vez concordo em pleno com o Ministro da Defesa

“Não possuo outra competência em matéria de Defesa e Segurança senão aquela que resulta dessa matéria ser de cidadania que interessa a todos.”

Palavras sábias de Augusto Santos Silva na apresentação do n. 14 da Revista Segurança & Defesa, reproduzidas na página 9 do n. 15 dessa publicação.

Janeiro 10, 2011 Posted by | Sem categoria | , , | Deixe um comentário

A/C Academia Portuguesa – WISC 2011, Porto

No próximo mês de Agosto o Porto acolhe mais um evento internacional de grande importância. A Universidade do Porto recebe a Third Global International Studies Conference, organizada no âmbito do World International Studies Committee. Depois das edições em Istambul (2005) e Ljubljana (2008), a terceira edição desta Conferência ocorre no nosso país, e é uma oportunidade única para que académicos e outros profissionais na área das relações internacionais apresentarem o seu trabalho para uma audiência esperada de mais de 1000 participantes vindos de todo o mundo. A Associação Portuguesa de História das Relações Internacionais, a Universidade do Porto e os principais responsáveis por esta iniciativa (Nuno Valério, Rui Novais e Laura Ferreira-Pereira) estão de parabéns.

O call for papers está aberto até ao fim deste mês de Novembro e todos são fortemente encorajados a submeter as suas propostas através do website da conferência – http://wisc2011.up.pt/index.php. Após muito trabalho de “diplomacia académica” (chamemos-lhe assim), a atribuição da organização desta importantíssima conferência a Portugal é um reconhecimento da expansão do campo das Relações Internacionais no nosso país e um incentivo para que todos trabalhemos mais para continuar a trilhar este caminho. Aproveitemos esta oportunidade.

Novembro 4, 2010 Posted by | Sem categoria | , | 3 comentários

Vamos fazer o que ainda não foi feito

Por coincidência, li ontem dois “textos” chamando a atenção para a mesma realidade. São duas pessoas que se encontram em lugares distantes no meu ranking de simpatia e consideração, mas que apresentam duas visões complementares sobre o mesmo objecto de análise. Em primeiro lugar, Nuno Monteiro, investigador e professor da Universidade de Yale, referiu no seu blog um estudo académico intitulado “L-worlds: The curious preference for low quality and its norms.” O trabalho, conduzido por dois investigadores italianos, refere-se a Itália, mas faz lembrar também outro país. O resumo reza assim:

 

We investigate a phenomenon which we have experienced as common when dealing with an assortment of Italian public and private institutions: people promise to exchange high quality goods and services (H), but then something goes wrong and the quality delivered is lower than promised (L). While this is perceived as ‘cheating’ by outsiders, insiders seem not only to adapt but to rely on this outcome. They do not resent low quality exchanges, in fact they seem to resent high quality ones, and are inclined to ostracise and avoid dealing with agents who deliver high quality. This equilibrium violates the standard preference ranking associated to the prisoner’s dilemma and similar games, whereby self-interested rational agents prefer to dish out low quality in exchange for high quality. While equally ‘lazy’, agents in our L-worlds are nonetheless oddly ‘pro-social’: to the advantage of maximizing their raw self-interest, they prefer to receive low quality provided that they too can in exchange deliver low quality without embarrassment. They develop a set of oblique social norms to sustain their preferred equilibrium when threatened by intrusions of high quality. We argue that cooperation is not always for the better: high quality collective outcomes are not only endangered by self-interested individual defectors, but by ‘cartels’ of mutually satisfied mediocrities.

E depois desta apresentação tentadora, começa assim:    

We have spent our academic careers abroad, Gloria in France and Diego in Britain. Over this long period of time each of us has had over a hundred professional dealings with our compatriots in Italy – academics, publishers, journals, newspapers, public and private institutions. It is not an exaggeration to say that 95% of the times something went wrong. Not catastrophically wrong, but wrong nonetheless.

Sometimes what goes wrong is timing, things do not happen when they are supposed to happen. Or they happen in a different form from that which was planned or are simply cancelled. Workshops have twice or half as many people as one was told to expect, the time allocated to speak is halved or doubled, proofs are not properly revised or mixed up, people do not show up at meetings or show up unannounced, messages get lost, reimbursements are delayed, decreased or forgotten altogether. This experience now extends to internet dealings: relative to those in other countries, Italians websites are scruffier, often do not work properly, remain incomplete or are not updated, messages bounce back, e-mail addresses change with dramatic frequency, and files are virus-ridden.

Também ontem Luís Figo, ele mesmo, referiu o seguinte:

Por conta dos últimos acontecimentos, estou queimado em relacão a Portugal. Quando quiser mais problemas, regresso a Portugal. Quando quiser não estar tranquilo, regresso a Portugal.” E remata com: “Sou patriota, gosto dos portugueses, mas gosto mais de mim”.

Se quisermos desmenti-los, vamos ter de nos esforçar um bocado mais.

Setembro 14, 2010 Posted by | Sem categoria | , | 5 comentários

Quer-me parecer que o facto de não se conhecer bem as pastas às vezes dá nisto

Santos Silva a revelar em entrevista ao jornal i, de ontem, informação que deveria ser secreta.

“Falou de terrorismo. O chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas pediu que fossem enviadas células de informações militares [CISMIL] para os teatros em que Portugal opera. Esse pedido foi satisfeito?”

Essa necessidade foi identificada nos teatros de operações especialmente sensíveis do ponto de vista das informações e vai ser suprida. Dentro da recomposição da força portuguesa no Afeganistão no próximo Outono já está incluída a primeira célula de informações. Sem querer ser precipitado, pensamos que também no Líbano devemos dispor desse tipo de instrumento.

Agosto 24, 2010 Posted by | Sem categoria | , , , , | Deixe um comentário

Sobre Portugal e terrorismo

Obviamente sem qualquer preocupação em ser exaustivo, aqui vai uma lista com algumas das mais importantes e recentes contribuições bibliográficas sobre o tema de Portugal e o terrorismo:

COSTA, Olinda (2009) The Islamist Terrorist Threat In Portugal: An Assessment Of The Threat, Projecto Final de Mestrado, MA Counter Terrorism & Homeland Security Studies, Lauder School of Government, Diplomacy & Strategy, Interdisciplinary Center Herzliya (Israel) e

COSTA, Olinda (2009) The Portuguese Legal and Institutional Frameworks on Counter-Terrorism, Lauder School of Government, Diplomacy & Strategy, Interdisciplinary Center Herzliya (Israel).

NOIVO, Diogo e João DOMINGUES (2009) Combating Complacency: The International Islamist Threat and Portuguese Policy, IPRIS Viewpoints 2, Lisboa: Instituto Português de Relações Internacionais e de Segurança;

PINHEIRO, Paulo Vizeu (2008) “Terrorismo, Intelligence e Diplomacia”, Segurança e Defesa 8: 76-79;

PINTO, Maria do Céu (2010) “Portugal: Avaliação do Sistema de Resposta à Ameaça Terrorista Jihadista”, Segurança e Defesa 13: 40-44;

SILVEIRA, João Tiago e Miguel Lopes ROMÃO (2005) ” Regime Jurídico do Combate ao Terrorismo: os quadros normativos internacional, comunitário e português”, Europa: Novas Fronteiras 16/17: 221-241.

Julho 31, 2010 Posted by | Sem categoria | , , | Deixe um comentário

25 anos de Portugal na UE em balanço

Após um fim-de-semana em que se assinalaram os 25 anos de adesão de Portugal às Comunidades Europeias (e enquanto, aterrorizados, podemos especular sobre onde estaríamos se tivessemos ficado de fora, como alguns queriam – e querem), fica uma sugestão de leitura para aquela que, a partir da Primavera de 2011, será a obra de referência neste assunto. Editado por Laura Ferreira-Pereira e publicado pela Routledge, “Portugal in the European Union: Assessing Twenty-Five Years of Integration Experience” terá os seguintes capítulos:

1. Introduction Laura C. Ferreira-Pereira

Part 1: Twenty-five Years After: The Evolution of the Portuguese Politics and Economics 2. Portugal in the European Union, 1985-2010 Nuno Severiano Teixeira 3. The Europeanization of the Portuguese Political System Paul Christopher Manuel 4. The Transformation of the Portuguese Economy: The Impact of European Monetary Union David Corkill 5. The Portuguese and the European Union António Costa Pinto 6. The Transformation of the Portuguese Society Michael Baum

Part 2: The Adjustment to Policy Areas 7. Portugal and Common Agriculture Policy Francisco Avillez 8. Portugal and the Industrial Policy Margarida Proença 9. Portugal and European Trade Policy Maria Helena Guimarães 10. The EU’s Structural Funds in Portugal: Positive Results, Lost Opportunities and New Priorities Alfredo Marques 11. Portugal and the Lisbon Strategy Carlos Zorrinho and Arminda Neves

Part 3: The Redesigning of the Portuguese Foreign Policy 12. From EPC to ESDP: Going from Orthodox Atlanticism to Committed Europeanism Laura C. Ferreira-Pereira 13. Lusophonia and the Continued Centrality of the Portuguese-Speaking Community Paulo Gorjão 14. From Failure to Success: East Timor in the Portuguese Diplomacy Rui Novais 15. The Relations between Portugal and Spain: Three Decades after Accession Sergio Caramelo 16. Portugal’s EU Experience: What Lessons for the Newcomers? Sebastian Royo 17.Conclusion AJR Groom and Laura C. Ferreira-Pereira

Junho 14, 2010 Posted by | Sem categoria | , , , | 1 Comentário

Ser anti-Israel é diferente de ser anti-semita, mas nem por isso deixa de ser nojento e ter resultados desprezíveis

Há duas horas atrás, no fim de um encontro informal com alunos israelitas em que se discutiu as relações UE-Israel-Médio Oriente:

Ele: De onde és, em Portugal?

Eu: Sou do Porto, a segunda cidade do país.

Ele: Infelizmente não fui lá, fui só a Lisboa. É a cidade mais espectacular da Europa.

Eu: Sim, Lisboa é fantástica!

Ele: Eu gostei tanto que depois levei toda a minha família a Portugal. Lisboa é mesmo espectacular. Mas, sabes, em Portugal foi o sítio da Europa onde senti maior hostilidade em relação ao facto de ser israelita.

Eu: A sério? Isso deixa-me muito surpreendido.

Ele: Pois… Fui ver um jogo de futebol entre o Sporting e o Benfica…

Eu:… ah! Eu sou do Sporting!

Ele: Eu também. Gosto muito do João Moutinho.

Eu: Eu não, mas isso podemos discutir depois…

Ele: Gostei muito de estar no Estádio José Alvalade antes de começar o jogo. Estava com pessoas do DUXXI, estavam todos a ser muito simpáticos, estavamos já a falar há algum tempo quando me peguntaram: “Então, de onde és?” Eu respondi que era israelita. Então viram-me as costas e disseram-me: “És israelita, nem sequer falamos contigo”.

Maio 31, 2010 Posted by | Sem categoria | , | 6 comentários

Camorra e ‘ndrangheta em Portugal

No fantástico “Gomorra”, Roberto Saviano relata a geografia transnacional da máfia napolitana, e em duas passagens refere-se a Portugal: existe uma loja de roupa de alta-costura contrafeita na Avenida da Boavista, controlada por um dos clãs de Secondigliano, e em Cascais existe igualmente actividade da camorra. Na edição de ontem do Expresso, refere-se que estas e muitas outras informações são confirmadas por um relatório da Europol e por um livro editado pelo antigo presidente da Comissão Anti-Mafia do parlamento italiano, Francesco Forgione. Se o crime organizado é por definição transnacional, a máfia napolitana terá necessariamente de sê-lo, igualmente. Reproduzo abaixo notícia de hoje do DN, com mais informações.

Portugal tem um papel “significativo” no tráfico de droga protagonizado pela ‘Ndrangheta, o principal grupo mafioso italiano envolvido nas redes de cocaína. A conclusão é da Europol, a agência policial europeia, registada no seu mais recente relatório, 2009, sobre as ameaças do crime organizado na Europa.

De acordo com o documento, embora a maioria da cocaína negociada pela ‘Ndrangheta chegue a Itália por via marítima, directamente da “fonte”, a Colômbia, “a droga é também, em quantidade significativa, distribuída através de Portugal, em alguma quantidade via França, mas especialmente através da Alemanha, onde o crime organizado italiano tem importantes bases de apoio”.

Segundo a agência europeia de investigação, a ‘Ndrangheta, que tem os seus contactos próprios com os cartéis colombianos, estabeleceu em Espanha um dos seus quartéis-generais logísticos. Os grupos traficantes italianos e franceses trabalham em conjunto na importação da droga para a Europa e, refere a análise oficial, “os membros italianos apoiam-se nos grupos de crime organizado envolvidos no tráfico de cocaína em Portugal”.

A acção da mafia italiana no nosso país é também confirmada num livro do antigo presidente da Comissão Anti-Mafia do parlamento italiano, Francesco Forgione, informação ontem reproduzida pelo jornal Expresso. Forgione indica mesmo Faro e Setúbal – ambas com portos e zonas costeiras apropriadas para desembarques – como locais de bases desta mafia calabresa. A Camorra, de Nápoles, tem também, segundo Francesco Forgione, um clã em Cascais e outro no Porto.

De acordo com fontes policiais consultadas pelo DN, a mafia italiana, tal como outros grupos de crime organizado, como as mafias de leste (ver texto em baixo), enquadra-se na chamada criminalidade transnacional e tem uma composição transfronteriça.

No caso da ‘Ndrangheta em Portugal, por exemplo, pode contar, além de italianos, com operacionais portugueses e brasileiros. Segundo uma fonte judicial citada pelo Expresso, esta organização mafiosa “está activa em Faro, na segurança ilegal a bares e discotecas e no tráfico de armas e droga”, com uma acção, no geral, discreta, mas eficaz.

A “discrição” da mafia no nosso país é apontada mesmo pela Europol como modus operandi característico, que esta agência descreve como o de “iludir a atenção das autoridades” através de outras actividades com moldura penal menos grave.

As autoridades estão atentas ao fenómeno e ainda em 2008 a PJ deteve 21 pessoas, incluindo três empresários de Alcobaça e um militar da Brigada Fiscal de GNR, suspeitos de tráfico de droga em ligação à Camorra.

Março 21, 2010 Posted by | 1 | , , | 2 comentários

Cooperação Portugal-Espanha em contraterrorismo

Hoje é dado mais um passo para o reforço da cooperação bilateral entre Portugal e Espanha na luta contra o terrorismo, através da assinatura de um memorando de entendimento que inclui a criação de um grupo de cooperação policial para troca de informações. É verdade que as recentes descobertas acerca da presença da ETA em Portugal trouxeram visibilidade a este processo, mas os factores que justificam esta cooperação vão muito para além da luta basca. É por isso que os termos deste entendimento estão concluídos há vários meses, e, segundo a Lusa, apenas o acidente de viação do coordenador das polícias Mário Mendes, na Avenida da Liberdade, fez adiar a sua assinatura.

Fevereiro 23, 2010 Posted by | 1 | , , | Deixe um comentário

1500

Mais um “afinal”: “Afinal” não eram 500 kg  de explosivos, mas antes 1500, para montar uma verdadeira fábrica de explosivos da ETA em Portugal.

As autoridades portuguesas encontraram cerca de 1.500 quilos de explosivos na vivenda que alegadamente servia de base à ETA nos arredores de Óbidos, bem como mapas de Madrid, Cádiz e da localidade de San Fernando, informou o Governo espanhol. 

Segundo o Ministério do Interior, foram igualmente encontrados documentos e material informático que ainda estão a ser analisados, mas que permitiram identificar Andoni Cengotitabengoa Fernández e Oier Gómez Mielgo como os dois alegados etarras que ocupavam a casa.

Verifica-se que a presença da ETA em Portugal era uma realidade bem consolidada, a caminho de adquirir uma dimensão difícil de calcular. A importância desta descoberta deve aferir-se tendo em conta o que representa agora mas, sobretudo, o que poderá representar para o futuro. E, como tantas vezes acontece, foi um acaso que levou ao desmantelamento deste refúgio etarra – o acaso enquanto forma comum e eficaz de contra-terrorismo. 

Fevereiro 7, 2010 Posted by | 1 | , , | Deixe um comentário

Agora já não há dúvidas

Após a detenção de um casal de etarras em Trás-os-Montes há umas semanas atrás, a descoberta da casa  de Óbidos faz com a presença da ETA em Portugal seja agora uma realidade incontornável. O El País traz mais informação que a maioria dos jornais portugueses, por isso vale a pena ler o artigo “ETA escondia 500 kilos de explosivos en la base descubierta hoy”. Se a cooperação policial entre Portugal e Espanha era já uma realidade, a partir de agora sê-lo-á ainda mais, o momento em que a PJ, pela primeira vez, fala em terrorismo.

Fevereiro 6, 2010 Posted by | 1 | , , | Deixe um comentário