Tratados

A correnteza levou

Na política tende a valorizar-se quem consegue antecipar problemas, evitar crises. Valoriza-se quem consegue ver mais além, estar à frente no seu tempo. No país do futuro, aquele cujo futuro parece nunca mais chegar, a ecologia é hoje um valor importante, e tem crescido como uma mantra. No Brasil, António Carlos Brasileiro de Almeida Jobim, 84 anos neste dia, foi ecologista antes de a ecologia ser moda e ter nome. Muitas das suas canções estão cheias de referências a plantas, animais, pássaros, proto-mitologia pagã do país da natureza. Numa destas, Correnteza, Tom fala das margens castanhas e barrentas criadas pelas correntes decorrentes de uma semana de chuvas. “A correnteza levou”. Como muito do que Tom fez e pensou, a música chegou antes da realidade, e a casa em que compôs Correnteza, em Poço Fundo, foi levada pela enxurrada deste Janeiro. 700 pessoas e o sítio de Tom Jobim. “A fruta que era madura a correnteza levou”.

Janeiro 25, 2011 Posted by | Sem categoria | Deixe um comentário

Crise na banca

O BES não providenciou aulas de canto aos desesperantes putos desafinados do anúncio que insuportabiliza a TSF. Jovens yuppies urbanos de classe média: nem tudo que vem da canalha tem piada; antes pelo contrário.

Janeiro 24, 2011 Posted by | Sem categoria | 1 Comentário

R:I e a política externa portuguesa

No mais recente número da R:I, publicação editada pelo Instituto Português de Relações Internacionais, Bernardo Pires de Lima faz uma breve recensão ao meu livro “Segurança e Defesa na Narrativa Constitucional Europeia, 1950-2008“, recensão esta que pode ser lida aqui. Agradeço tanto as palavras elogiosas como as sugestões deixadas, com as quais, de resto, concordo.

O número 28 desta publicação centra-se na política externa portuguesa e aborda temas actuais, como a eleição para o Conselho de Segurança da ONU ou a relevância da função presidencial para a política externa, fazendo igualmente um balanço da presença de Portugal em cenários geopolíticos como a União Europeia ou o espaço ibérico (e a globalização), por exemplo. Questões como a internacionalização da economia nacional e a relevância das políticas energéticas merecem também atenção.

Janeiro 19, 2011 Posted by | Sem categoria | , | Deixe um comentário

A Luta Contra o Terrorismo Transnacional – Contributos Para uma Reflexão

A Almedina acaba de publicar o livro A Luta Contra o Terrorismo Transnacional – Contributos Para uma Reflexão, onde assino dois artigos, um deles em co-autoria com Laura C. Ferreira-Pereira. Trata-se do novo volume surgido de um projecto conduzido por Ana Paula Brandão na Universidade do Minho sobre a cooperação ibérica e europeia na luta contra o terrorismo. O primeiro volume, editado em meados de 2010, tem como título a União Europeia e o Terrorismo Transnacional.

Abaixo reproduzo o índice de A Luta Contra o Terrorismo Transnacional – Contributos Para uma Reflexão

 

Dinâmicas transnacionais e securitizadoras: o efeito amplificador do 11/09 – Ana Paula Brandão

O terrorismo na era da incerteza – Luis Fiães Fernandes

A trilogia liberdade-justiça-segurança: contributos para a reconstrução do conceito de espaço penal europeu – Manuel Monteiro Guedes Valente

A cooperação policial europeia e o terrorismo transnacional – Élia Chambel Pires

A Política Comum de Segurança e Defesa da União Europeia e a luta contra o terrorismo: génese e evolução de um novo nexo – Laura C. Ferreira-Pereira e Bruno Oliveira Martins

A abordagem europeia do terrorismo no Tratado de Lisboa e o caso de Portugal – Bruno Oliveira Martins

O Tratado de Lisboa e a gestão de crises na União Europeia com impacto transnacional – Paulo Valente Gomes

Janeiro 17, 2011 Posted by | Sem categoria | Deixe um comentário

Rio de lama

Cheias no Rio, rios de lama. Ah, mundo tão desigual, tudo é tão desigual. De um lado esse Carnaval, do outro a fome total. O Brasil caminha, sim, ainda não chegou a lado nenhum.

Janeiro 14, 2011 Posted by | Sem categoria | 2 comentários

Sociological basics for 2011

A: She got back to her place with a boosted self-esteem and a new facebook friend.

B: In the 21st century, that is as good as it gets.

Janeiro 13, 2011 Posted by | Sem categoria | Deixe um comentário

Portugal, emigração, meritocracia

Óptimo artigo de Joana Gorjão Henriques no Guardian sobre Portugal, a nova vaga de emigração e outras questões sociais. Este excerto é totalmente certeiro:

A side effect of our Roman Catholic heritage is that we aren’t very good at praising people for their successes and rewarding merit. Portuguese elites are suspicious and small; they are distant from the rest of the population, which in turn does not trust them either (…). We have problems with words like meritocracy and competitiveness, seen as part of a vocabulary used by capitalists or by over-achievers.

O texto termina com uma conclusão interessante: saindo muita gente que se integra numa geração jovem e qualificada, muita mais gente fica que terá de adaptar-se às dificuldades e encontrar as suas próprias soluções. Esta vaga de emigração abre espaço a uma geração mais auto-suficiente, mais curiosa e menos cheia de mimos. Muito bem.

Janeiro 11, 2011 Posted by | Sem categoria | | 3 comentários

Pela primeira vez concordo em pleno com o Ministro da Defesa

“Não possuo outra competência em matéria de Defesa e Segurança senão aquela que resulta dessa matéria ser de cidadania que interessa a todos.”

Palavras sábias de Augusto Santos Silva na apresentação do n. 14 da Revista Segurança & Defesa, reproduzidas na página 9 do n. 15 dessa publicação.

Janeiro 10, 2011 Posted by | Sem categoria | , , | Deixe um comentário

Crise, pobreza de espírito

Na noite de 31 de Dezembro de 2010, os telejornais regozijavam. Está quase a chegar o ano em que o pão finalmente vai ficar mais caro; os combustíveis vão subir; os representados de Bettencourt Picanço vão sofrer cortes nos salários. Crise, crise, crise, como tanto se deseja. Por estes dias de crise, quase todos somos abutres de nós próprios e do nosso fado. Na noite de 31 de Dezembro de 2010, os telejornais davam reportagens de portugueses que passavam 40 minutos em filas para abastecer os carros, poupando assim um euro – euro esse provavelmente consumido no pára-e-arranca propiciado pelos 40 minutos numa fila de automóveis. A pobreza é uma situação económica e social, mas é também um estado de espírito. Não contem comigo para psicanalisar estes portugueses e explicar-lhes que há formas melhores de passar 40 minutos.

Nos países nórdicos existe uma norma social de acordo com a qual as pessoas não devem ostentar a sua riqueza. Subscrevendo, adapto e digo que, igualmente, uma pessoa não deve ostentar a sua pobreza – principalmente se for pobreza de espírito, aquela pobreza de espírito que a leva a falar de crise por tudo e por nada. Há aquelas pessoas que não gostam de falar sobre determinados temas. Sexo, por exemplo. Só de ouvir falar em sexo, há pessoas que fecham os ouvidos, desligam, mudam de assunto, ficam incomodadas. Comigo, passa-se o mesmo com dinheiro, finanças pessoais, poupanças, etc. Não quero saber. E não acho necessário que, quando se fala de festas de revéillon, se fale em crise; não me parece fundamental que, quando se olha para a capa de um ex-jornal de referência, se veja escrito, na primeira página do Público, de cima a baixo, com fotografia e em manchete, a bomba: “Como dizer aos seus filhos que perdeu o emprego”. Em Portugal já não há jornais de referência, em Portugal já quase não há referências ou possibilidade de conhecer aquelas que deveriam ser as referências. Só há pobreza de espírito. 

Janeiro 5, 2011 Posted by | Sem categoria | 8 comentários

Pesos, medidas, Budapeste

A 1 de Janeiro, a Hungria assumiu a Presidência sectorial rotativa do Conselho da UE, mas estes primeiros dias têm sido marcados por tensões graves entre Bruxelas e Budapeste. Em causa estão dois pacotes legislativos que afastam a Hungria de princípios básicos do sistema legal comunitário: um deles impõe um imposto especial sobre investimento e negócios com origem no estrangeiro, e o outro, aprovado em 21 de Dezembro, introduz restrições à liberdade de expressão nos meios de comunicação social, incluindo meios online com origem noutros países que tenham decidido basear-se no estrangeiro para contornar as disposições de Budapeste.

Ao contrário do que sucedeu com a OSCE, que reagiu vigorosamente logo em Dezembro, a UE manteve-se na expectativa. Com a inevitabilidade da adopção da legislação, espera-se agora uma reacção de Bruxelas, que será muito interessante de observar. Isto porque, se estas medidas fossem tomadas antes de a Hungria se juntar à UE, seriam um obstáculo relevante à conclusão do processo de adesão. É mais um teste à capacidade de persuasão da UE, mais um caso para atestar a sua ambicionada coerência de actuação.

Janeiro 4, 2011 Posted by | Sem categoria | Deixe um comentário

Que nunca caiam as pontes entre nós

Por muito que a construção europeia tenha sido altamente bem sucedida em pacificar o continente, dirimindo conflitos e actuando preventivamente antes que outros se tornassem inevitáveis, há ainda muito trabalho na agenda de Bruxelas. O mais duradouro e mais problemático dos casos prende-se com a questão de Chipre e as relações entre a Grécia e a Turquia em geral.

Várias dimensões desta problemática relação têm implicações directas no funcionamento tanto da UE como da NATO. Hoje, surgem notícias de que a Grécia pretende trazer mais uma dimensão para cima da mesa. De acordo com o EU Observer, Atenas pretende construir um muro ao longo dos 206 km de fronteira que partilha com a Turquia, à imagem – segundo o artigo – daquele que separa os Estados Unidos do México. O termo de comparação, no entanto, não deve ser esse – nem mesmo o muro que separa Israel e a Cisjordânia, que a UE não se cansa de criticar. Os muros da Europa têm uma conotação diferente, um significado que a construção europeia ajudou a dirimir. A UE derrubou os muros da Europa. Espera-se que, em  2011, esteja à altura da sua história.

Janeiro 3, 2011 Posted by | Sem categoria | 1 Comentário