Tratados

ANÁLISE :: Economia da expansão dos colonatos

O porta-voz da Alta-Representante Cathy Ashton veio hoje reagir ao anúncio de Israel de que vai construir mais 1300 casas na Cisjordância. A expansão dos colonatos esteve congelada até Setembro mas agora, conforme esperado, a desfaçatez regressou (lamento mas é a palavra que me ocorre). No comunicado apresentado hoje, a UE reafirma a ilegalidade dos colonatos à luz do direito internacional e sublinha que a construção destas habitações em Jerusalém Oriental é um obstáculo à paz e que ameaça tornar impossível a solução dos dois Estados.

Para Cathy Ashton, a realização de avanços no processo de paz é claramente uma prioridade. Isso tem sido verificado ao longo deste seu primeiro ano de mandato e constitui talvez a principal marca que tem deixado neste período. Confrontado com sucessivas crises, o estado actual da relação entre Israel e a UE reflecte o desencanto – recíproco – entre os parceiros, e surge como uma das consequências mais previsíveis das eleições que recolocaram Bibi Netanyahu no poder, em Fevereiro de 2009. A linha política seguida pela direita israelita não é subscrita nem pela UE nem pela actual administração norte-americana, mas isso continua a não perturbar decisivamente o rumo seguido por Netanyahu. O que é que será preciso para que o status quo se altere?

Provavelmente, só os factores demográfico e, por arrasto, económico. Numa altura em que a população de Israel é, em mais de 20%, árabe, e em que as taxas de crescimento entre esta franja social são superiores aos restantes israelitas, a crescente anexação de facto de mais território só aumenta os encargos económicos e sociais do Estado judaico. Por um lado, a discriminação que existe em relação à minoria árabe israelita impede que estes cidadãos se sintam “tão israelitas” como “os outros”; e os encargos advindos da expansão de colonatos (estradas, despesas com segurança, muros, etc) são relevantes, do ponto de vista económico. Portanto, mesmo do ponto de vista social e económico (pelo menos destes), a construção de um Estado palestiniano é positiva para Israel. Mesmo olhando para esta questão de um ponto de vista dos interesses israelitas, a crescente expansão dos colonatos não faz sentido, tanto em termos de diplomacia internacional como numa perspectiva económica e social. Por isso, todas as iniciativas que atrasem e comprometam este desfecho são prejudiciais a Israel.

Novembro 9, 2010 Posted by | Sem categoria | , , , , , | Deixe um comentário

Cathy Ashton novamente em Israel e nos territórios palestinianos

EPA - European Pressphoto Agency

Cathy Ashton está novamente em Israel e nos territórios palestinianos, pela segunda vez desde que assumiu o cargo de Alta-Representante para a política externa e de segurança da UE. Volvidos quatro meses desde a visita anterior, o discurso-base mantém-se, ainda que com um novo ímpeto causado pelo ataque de Israel à flotilha ao largo de Gaza, em 31 de Maio (ler aqui “Os Alertas Turcos, de Bernardo Pires de Lima“): é necessário terminar com o bloqueio a Gaza, dando oportunidade à economia palestiniana de crescer e de se autonomizar; é preciso fazer com que o processo de paz seja retomado; é necessário libertar Gilad Shalit, soldado israelita em cativeiro desde 25 de Junho de 2006.

Esta segunda visita é mais uma ilustração do alto posicionamento do conflito israelo-palestiniano no ranking de prioridades da acção externa da UE. Os montantes envolvidos na ajuda ao desenvolvimento canalizados para Gaza desde Bruxelas são extensos, e tal é reconhecido pelas autoridades de Gaza, Ramallah e Telavive; mas o sucesso diplomático europeu nesta questão será apurado tendo em vista outros factores. Não é por transferir mais dinheiro que Bruxelas vê a sua voz ser mais ouvida na mesa das negociações; Cathy Ashton e a sua equipa parecem ter percebido que o empenho na resolução deste conflito requer o comprometimento com acções mais ousadas e com tomadas de posição mais exigentes. Ir ao Médio Oriente não chega, mas ajuda.

Enquanto isto, noutro tabuleiro diplomático das relações UE-Israel, continua a jogar-se o jogo das consequências políticas decorrentes do uso de passaportes de cidadãos europeus pela Mossad. Na semana passada surgiu a notícia de que Dublin se opunha à assinatura de um acordo entre a UE e Israel quanto à partilha de dados pessoais de cidadãos europeus, uma iniciativa da Comissão Europeia que visava estreitar a troca de informações com Telavive. As preocupações irlandesas surgem após a suspeita de que a agência secreta israelita usou oito passaportes irlandeses falsos na acção em que matou no Dubai o dirigente do Hamas Mahmoud al-Mahbouh. Estas consequências arrastam-se desde há muitos meses, mas suspeito que não ficarão por aqui.

Ver também no Guardian: “Chris Patten urges bolder EU approach over Middle East conflict“, no EUObserver “Ashton calls on Israel to open border crossing to Gaza” e no Haaretz, com um foco diferente, EU foreign policy chief visits Shalit family, urges Hamas to free captive IDF soldier.

Julho 19, 2010 Posted by | Sem categoria | , , , , | Deixe um comentário

“The EU can be a player, not just a payer”

Curiosamente é o próprio primeiro-ministro palestiniano que diz aquilo que a UE deveria ser, num engraçado jogo de palavras que caricatura bem a grande parte da política da UE em relação ao conflito israelo-palestiniano. (PS – na notícia, conferir intervenção do eurodeputado Miguel Portas)

Fayyad at the EP: EU can be a player, not just a payer

The EU, as the biggest donor to the Palestinian Authority, has a more important role to play now than ever before, Palestinian Prime Minister Salam Fayyad told Budgets Committee MEPs on Tuesday.

Julho 14, 2010 Posted by | Sem categoria | , , , , | Deixe um comentário

O ponto de partida

Copyright © Steve Bell 2008

Netanyahu viajou ontem à noite para Washington afim de reunir com Obama e de procurar estreitar laços diplomáticos com a Administração. Como se viu no passado recente, partir para este tipo de encontros com uma mão cheia de nada é contra-producente, e é por isso que na pasta do primeiro-ministro israelita vai um conjunto de propostas que ilustram uma nova abordagem israelita em relação ao processo de paz.

Em relação a este quinto encontro entre Obama e Netanyahu, o Haaretz descreve o estado actual desta relação de forma lapidar: “Obama is not convinced that Netanyahu is serious in his declared intentions regarding the process, and the Israeli premier is not confident that the current American administration is committed to maintaining the same relations with Israel as those held by its predecessors.” Mas isto não reduz, necessariamente, as expectivas quanto ao desfecho da reunião, uma vez que, sendo tão baixo o ponto de partida, o saldo do encontro pode até ser positivo.

Entretanto, Cathy Ashton pronunciou-se sobre as novas medidas propostas pelo Governo de Netanyahu relativamente a Gaza, congratulando-se com o facto de esta política poder ter impacto real na melhoria da qualidade de vida da população. Se a comunidade internacional perceber que só com grande pressão diplomática as coisas se começam a resolver, então aí tudo será melhor para todos – incluíndo os israelitas.

Julho 6, 2010 Posted by | Sem categoria | , , , | 4 comentários

ANÁLISE :: Ashton e o processo de paz

A sucessão de acontecimentos relevantes em torno do processo de paz israelo-palestiniano ao longo dos últimos meses colocou este tema no topo da agenda de Cathy Ashton, não se sabe se de forma totalmente premeditada ou se esse facto resultou da própria força das circunstâncias. Ainda assim, mesmo sendo impossível a um ministro dos negócios estrangeiros de facto da UE passar entre os pingos da chuva e evitar agarrar este assunto pelos colarinhos, Cathy Ashton tem dirigido bem a acção diplomática da UE em relação ao processo de paz e, num quadro ainda difícil (cargo novo, tema sensível e muito dado a diferentes posições dos Estados membros), tem feito intervenções equilibradas em reacção aos acontecimentos. Além do mais, Ashton sabe que, independentemente de todos os outros resultados em todos os outros domínios da política externa europeia, um balanço muito positivo no processo de paz israelo-palestiniano, com resultados concretos, deixará incontornavelmente uma marca de sucesso no seu mandato. No futuro espera-se mais, mas agora seria difícil esperar outro tipo de declarações que não as que têm sido proferidas. A última das quais foi ontem, sobre o alívio do bloqueio a Gaza e numa altura em que a própria marinha israelita admitiu erros na abordagem à questão da flotilha:

“I am very encouraged by the announcement of the Government of Israel. It represents a significant improvement and a positive step forward. Once implemented, Israel’s new policy should improve the lives of the ordinary people of Gaza while addressing the legitimate security concerns of Israel.”

Junho 21, 2010 Posted by | Sem categoria | , , , , | Deixe um comentário

ANÁLISE :: Batalha Naval afunda Israel

Há dias diziam-me que, por paradoxal que parecesse, a crise em torno do ataque israelita à flotilha ao largo de Gaza iria acabar por ser benéfica. Para os israelitas, o desastre diplomático comportaria um preço a pagar, e em última instância, levaria à quebra do status quo em relação a Gaza, inadmissível para a comunidade internacional mas, ainda assim, não tanto ao ponto de esta ser proactiva tendo em vista a resolução do problema. A morte  de 9 cidadãos turcos e a detenção, por umas horas, de centenas de cidadãos europeus e americanos, serviu de desbloquador. Agora que se perspectiva o levantamento de parte de bloqueio, os próximos desenvolvimentos dar-se-ão em dois tabuleiros.

Perspectivas internas

Numa esquizofrénica duplicidade de discursos, Netanyahu anunciou que iria aliviar o bloqueio fronteiriço a Gaza, que foi iniciado em 2007 após o Hamas ter assumido o poder neste território. Mas este anúncio apenas foi feito na versão em inglês, dirigida à comunidade internacional e aos jornalistas de órgãos de comunicação estrangeiros. Na versão em hebraico não houve menção a esta decisão. Pode especular-se sobre onde está a mentira, e se o seu objectivo está fora ou dentro das fronteiras do país (o governo pretendeu enganar a comunidade internacional ou os israelitas?), mas, em todo o caso, Netanyahu está a ser vítima de uma coligação ampla demais, onde se reflectem visões muito diferentes, e, também por isso, não tem sido o líder de que os israelitas tanto precisavam. Esta situação hilriante é bem reveladora desta tendência. Uma das últimas coisas de que Israel necessitava agora era de instabilidade política interna; mas a última seria mesmo um governo à deriva e à mercê de franjas mais radicais e incapaz de contrariar a crescente ortodoxidade social do país.

O novo contexto externo

Ao inserir-se numa linha de acontecimentos que, nos últimos 18 meses (desde a ofensiva em Gaza iniciada em 26 de Dezembro de 2008), têm contribuido para um progressivo isolamento internacional, o ataque à flotilha facilitou a opção de alguns indecisos que ainda balançavam entre ambos os lados e fez engrossar a massa dos que rejeitam firmemente este tipo de acções israelitas. A Administração Obama persegue uma linha mais exigente do que as suas antecessoras e a ONU continua na senda do respeito pelo direito internacional, caminho este que, mais tarde ou mais cedo, acaba por colidir com Telavive. Quanto à UE, é importante que se saiba que as suas fortes relações económicas com Israel são condicionadas pelo processo de paz com os palestinianos. E não se trata apenas de uma questão de retórica discursiva e de pressão diplomática; as negociações em torno do upgrade das relações entre ambos os lados, que ocorreram intensamente durante 2008, foram suspensas e não há, ainda, qualquer perspectiva de novo acordo. Neste momento, o instrumento jurídico de regula a relação, o Plano de Acção, viu o seu prazo de validade inicial expirado e sucessivamente prolongado. “Não mata mas mói”: parece ser essa a posição de Bruxelas, e, com efeito, o que se espera é que moa.

Junho 18, 2010 Posted by | Sem categoria | , , , , , | Deixe um comentário

Balanço da Parceria Euro-Mediterrânica

 

De acordo com uma consulta a 371 especialistas e actores de 43 países do Mediterrâneo e da UE, o conflito israelo-palestiniano é um grande obstáculo para a Parceria Euro-Mediterrânica, com capacidade de paralisar este processo. Transcrevo abaixo um resumo das conclusões, retirado daqui. O documento “Assessment of the Euro-Mediterranean Partnership: Perceptions and Realities” pode ser lido aqui.

It terms of obstacles, the survey found a wide consensus on the difficulties posed by the Middle East conflict, with 73% saying it seriously endangered the Partnership. The two other obstacles most often mentioned are the weak political will for reform in Mediterranean Partner Countries (43% of respondents) and the lack of South-South integration (43%).

The survey also pointed to the problem of understanding of the Partnership: “14 years after its inception, the Euro-Mediterranean Partnership is diversifying into a set of differentiated thematic processes which are difficult to grasp even for experts and actors selected for the Survey,” the report said, pointing to the high percentage of “Don’t know” answers for many questions seeking a detailed assessment of concrete instruments or progress.

In many respects, it added however, this diversification was “a sign of the Euro-Mediterranean Partnership migrating from the realm of diplomats and generalist civil society actors to the remit of specialized ministerial experts and civil society organizations and even interest groups.”

Indeed, a more detailed analysis of the Partnership by priority areas, reveals a relatively high appreciation of action in the cultural and education fields and the people-to-people programmes, but also that respondents consider that the Euro-Mediterranean Partnership is mainly benefiting the business climate and economic interests, but without this translating into job creation, women’s integration into economic life or a convergence towards EU income levels.

According to a synthesis of results, the Survey offers a clear picture of what has worked and what has not in the Euro-Mediterranean Partnership.

Successes:

– Business climate

– Multilateral programmes in the economic field (role of FEMIP and Medibtikar and Invest in Med Programmes)

– Increasing the awareness and understanding of the different cultures and civilizations

– Educational, cultural, youth and research exchanges (Euromed Heritage, Anna Lindh Foundation, Regional Informationa and Communication Programme, Euromed Youth, Gender Equality Programme)

– Programme on the Role of Women in Economic Life

Failures:

– Enabling citizens to participate in decision-making at local level

– Sustainable development

– Strengthening financial cooperation

– South-South regional economic integration

– Reducing disparities in education achievement

– Cooperation in migration, justice and security

– Facilitating mobility and managing migration

Looking forward, respondents envisaged a bleak future dominated by the Middle East conflict, growing water shortages and social tensions, leading to increased irregular migration to Europe. Taking this into account, they set as top priorities for the Union for the Mediterranean:

– Conflict resolution in the region (62% of respondents)

– Promotion of democracy and political pluralism (49%)

– Water access and sustainability (41.5%)

– Education (41%)

 

 

Junho 2, 2010 Posted by | Sem categoria | , , , , , | Deixe um comentário

ANÁLISE :: Negociações indirectas entre israelitas e palestinianos

No passado sábado, o impasse em torno da possibilidade de retoma das negociações indirectas entre israelitas e palestinianos foi desbloquado e as conversações, sob mediação de enviados norte-americanos da equipa de George Mitchell, foram encetadas ontem. Este foi o primeiro passo concreto, em 18 meses, a conferir sentido à expressão “processo de paz”. Há ano e meio que não havia processo de paz.

Ao patrocinar este avanço, a Administração de Obama concretiza o seu empenhamento na questão, na tradição das Administrações americanas. Mas a escalada da retórica entre Washington e Jerusalém verificada nos últimos meses poderá marcar o desfecho das conversações e apontar novos desenvolvimentos para o futuro. Philip Crowly, Secretário de Estado adjunto, deixou bem claro que, se nesta fase algumas das partes tomar acções que comprometam a confiança mútua, serão responsabilizadas pelos mediadores norte-americanos, que não obstante asseguram que não deixarão cair as negociações.

Para já, Mahmoud Abbas comprometeu-se a combater qualquer tipo de incitamento à violência, e Netanyahu assegurou que, durante os próximos anos, nenhuma casa será construída em Ramat Shlomo. Foi esta última questão que esteve na origem do surto de tensão entre norte-americanos e israelitas há algumas semanas, e esteve agora na génese do princípio de acordo. Apesar de ambos serem objectivos pouco ambiciosos e pouco tangíveis (o que é incitamento? E quanto aos outros colonatos?), são um sinal positivo dado pelos intervenientes, o primeiro desde a ofensiva israelita em Gaza iniciada em Dezembro de 2008. No entanto, como todos os intervenientes sabem, será preciso muito mais do que isto para se aspirar a um desfecho positivo do processo de paz. 

Maio 10, 2010 Posted by | Sem categoria | , , , , | Deixe um comentário

Bruxelas, Washington e os pontos nos ii

Na conferência em que me encontro agora, a sessão mais interessante tinha o sugestivo nome “Do Transatlantic Relations Still Matter?” Como bem apontou o Embaixador francês no Canadá, para muita gente, esta questão no fundo significava: “Does Europe Still Matter?” Mas a verdade é que as relações transatlânticas nunca foram tão boas como tem acontecido desde o fim da guerra fria.

Contrariando discursos como os de Robert Kagan sobre Marte e Vénus, e assumpções/generalidades que dizem que a UE e os EUA, sobretudo durante a Administração Bush, se afastaram definitivamente, alguns analistas dizem precisamente o contrário. Andrew Moravcsik, da Universidade de Princeton, é deliciosamente persuasivo ao dizer que, mesmo na questão mais suspeita – intervenções militares dos EUA – a sintonia Bruxelas-Washington nunca foi tão forte. Durante a Guerra Fria, e desde a guerra da Coreia, praticamente todas as intervenções americanas tiveram a oposição dos (Estados) europeus. Vietname, Nicarágua, Suez, entre tantas outras, criaram verdadeiras crises atlânticas. Em sentido contrário, desde os anos 90, das várias intervenções “out of area” dos americanos, apenas a Guerra do Iraque (somente a segunda, porque em relação à primeira não houve problemas) gerou oposição europeia. E esta constatação surge na área que, normalmente, a incompatibilidade é apontada como sendo mais evidente. O resto é a democracia, comércio, direitos humanos, liberdades individuais, cooperação militar e estratégica, partilha de informação, investimento em conhecimento científico, e por aí fora.

Além disso, por muito que a retórica dominante aponte alegadas incompatibilidades insanáveis em muitas questões, em áreas como o contra-terrorismo, por exemplo, a “realidade real”, a implementação na prática, mostra uma cooperação que, hoje, é maior do que era há anos atrás. Na verdade, os preconceitos gerados à volta do inquilino da Casa Branca fazem toda a diferença para a maior parte dos analistas. Já reparam que Guantánamo continua por fechar, Israel continua a expandir os colonatos, não há qualquer miragem de processo de paz no Médio Oriente e a situação no eixo Afeganistão/Paquistão piorou? E já lá vai ano e meio.

Abril 17, 2010 Posted by | 1 | , , , | Deixe um comentário

Israel olha para a crise

Gideon ROSE: Do the Israelis view this as an attempt by the Obama administration to force Netanyahu to do something that will disrupt his coalition and make the government fall?

Ehud YAARI: Absolutely so. I think that the sense in Israel right now — and as I said, the prime minister is just about to land — is that Mr. Netanyahu and Barak — and it’s very important that he took with him the defense minister because he wanted to reassure President Obama that he is indeed talking about a two-state solution; that he is bringing his closest ally, the defense minister who was the man who made the proposals at Camp David 2000. But instead, he was presented by what is perceived at the moment, at least now, as a bend or break, with demands that are very difficult for him to accept.

Now, if the American moves are generated by the wish to see a different government in Israel, then I have to say that, number one, I don’t think that the Netanyahu coalition is about to disintegrate; and number two, I do not think that Kadima Party, Mrs. Livni, who seems to be viewed more favorably in Washington, that is going to join — to join the coalition anytime soon. And if it did — coalition (break down ) — and we go to early elections, I can assure you — and I’ll take the responsibility for that — that the right wing will win.

Entrevista para a Foreign Affairs de Gideon Rose a Ehud Yaari, Lafer International Fellow no Washington Institute for Near East Policy.

Abril 5, 2010 Posted by | 1 | , , , , | Deixe um comentário

Geografia da expansão dos colonatos

No passado mês de Novembro, a Foundation for the Middle East – uma das instituições cujas publicações estão na lista de leituras obrigatórias – publicou um mapa com os planos de expansão dos colonatos israelitas até 2015 e 2020, que prevêm a construção de 14.123 casas em território palestiniano, próximo da fronteira com Israel. Não tenho números acerca da média de elementos por agregado familiar nos colonatos, mas sei, por experiência própria, que a densidade populacional (judaica) nos colonatos é bem superior à do restante território israelita, uma vez que muitos colonos vestem a pele de pioneiros missionários para os quais a demografia é uma arma. Com isto quero dizer que estas casas corresponderão a pelo menos 50.000 novos colonos israelitas nos territórios da Palestina.

Trago agora este mapa a este espaço uma vez que ali, em Novembro, estavam já previstas as 1600 novas habitações de Ramat Shlomo, aquelas cuja construção aparentemente esteve no início da tensão israelo-americana. Faço esta nuance porque os anúncios de expansão dos colonatos são usuais desde que Netanyahu chegou ao poder e terminou com a hipocrisia do anterior Governo, que clamava que havia congelamento dos colonatos e depois era ver as máquinas a trabalhar sem parar. Reitero o que disse no post anterior acerca deste tema: a Administração Obama assume agora uma nova linha de ruptura com Netanyahu porque decidiu estrategicamente elevar a retórica, e não porque se sentiu especialmente insultada pelo anúncio de expansão de colonatos – expansão esta que, como se vê, estava prevista desde há vários meses.

Na parte direita do mapa vê-se o colonato de Ma’ale Adumim. Este é um dos destinos obrigatórios das visitas que organizações israelitas de direitos humanos promovem destinadas a jornalistas e diplomatas estrangeiros, e que os leva a visitar a geografia da expansão dos colonatos. Visitei Ma’ale Adumim e vi uma cidade de 50 000 pessoas, com escolas, quartéis de bombeiros, shoppings, cinemas, piscinas, e jardins verdejantes rodeados de terra árida. Olha-se para fora do colonato e vê-se uma paisagem quase lunar, com terra seca, montes, e mais nada. Quem acha que os colonatos serão desmantelados mais cedo ou mais tarde numa solução definitiva nunca viu Ma’ale Adumim.

Março 22, 2010 Posted by | 1 | , , , , , | Deixe um comentário

ANÁLISE :: Surto de violência em Israel

A actual situação de tensão entre Israel e palestinianos, por um lado, e entre Israel e os EUA, por outro, tem vindo a ser cozinhada desde há ano e meio, desde o surto de violência protagonizado pelos colonos israelitas e que os opôs tanto aos palestinianos como às próprias forças de seguranças israelitas. Já na altura escrevi, num paper para o CEPESE da Universidade do Porto, que estas acções colocavam o Estado judaico perante um desafio ao Estado de direito e ao primado da lei. Nesse teste, Israel chumbou. Netanyahu e o seu governo de coligação com extremistas mais radicais do que Bibi, eleitos alguns meses depois, têm feito o resto. É  provável que, com Livni, a situação fosse diferente.

O quadro actual é formatado por duas ideias basilares: por um lado, a contínua expansão de colonatos israelitas está a fazer transbordar a ira dos palestinianos e, como já tantas e tantas vezes foi dito, enquanto este movimento persistir, não há sequer miragem de processo de paz. É uma contradição em si mesma. Por outro lado, a  tensão com os Estados Unidos parece chegar do facto de Obama e Hillary Clinton estarem a permitir que se perceba que perceberam que não têm em Netanyahu um parceiro credível para negociar. A escalada de retórica da parte de Washington surge agora por, com o Vice Joe Biden em Israel em viagem e tentativa de relançamento das negociações, persistirem os anúncios de que a expansão dos colonatos irá continuar, desta feita com mais 1600 casas em Ramat Shlomo. Washington considerou este anúncio um insulto, mas a verdade é que insultos destes há todos os dias. Aguarda-se a posição da Administração Obama neste que é, até agora, o maior desafio colocado perante si no que respeita ao seu empenho na resolução do problema israelo-palestiniano. Netenyahu terá percebido a fraqueza de Obama no que concerne ao conflito e foi esticando a corda. A verdade é uma: se nos últimos anos não houve senão retrocessos, a evidência empírica aponta para a necessidade óbvia de se mudar a abordagem.

As hipóteses de haver uma escalada de tensão ao ponto de originar uma terceira intifada serão maiores se houver, também, uma escalada de retórica e a adopção de determinadas medidas por parte da Autoridade Palestiniana. Se há facções palestinianas interessadas neste cenário, outras há para quem só o cenário actual é conveniente. A Fatah saberá que a violência potencia o extremismo e, por isso, beneficia em última instância o Hamas. E é nesta balança que os seus líderes terão de actuar, sendo certo que qualquer decisão tomada terá implicações decisivas na política da região.

(corrigido)

Imagem: UPI.com

Março 16, 2010 Posted by | 1 | , , , , , , , , | Deixe um comentário

Santa Casa da Misericórdia de Bruxelas

São estes os custos da global actorness da União Europeia? É assim que se pretende ganhar força diplomática que permita influenciar o desenvolvimento das negociações de paz israelo-palestinianas?

EU contributes to Palestinian salaries with €21 million

The EU has provided €21 million to help the Palestinian Authority pay the salaries and pensions of over 80,000 Palestinian civil servants and pensioners.

A delegation press release said on 4 February this contribution had been channeled through PEGASE, the European mechanism for support to the Palestinians and was part of a recent allocation of €158 million from the European Union in direct support to the Palestinian Authority budget of 2010 to help ensure the continued delivery of essential public services

Fevereiro 8, 2010 Posted by | 1 | , | Deixe um comentário

Para a próxima não se esqueçam de também convidar os outros

Na passada quinta-feira, o Primeiro-Ministro Zapatero encontrou-se com o Primeiro-Ministro palestiniano Salam Fayed e garantiu-lhe que a Espanha, durante a sua presidência (sectorial) semestral da UE, está empenhada em retomar as conversações de paz entre israelitas e palestinianos. O encontro serviu para analisarem em conjunto a situação actual no Médio Oriente, as possibilidades de romper o impasse negocial e as hipóteses de envolver outros actores regionais para promover a paz entre as várias facções palestinianas. Este desígnio do Primeiro-Ministro espanhol foi também declarado no Parlamento Europeu, na véspera, aquando da apresentação das prioridades espanholas para os próximos seis meses.

Como já se sabe, a cada seis meses, cada presidência traz este assunto para o topo das prioridades ao nível do discurso sobre política externa europeia. “De meio em meio ano, a mesma boa vontade“. Mas também se sabe que, à União Europeia, falta muito para conseguir resolver o que que que seja. Ainda assim, com o Tratado de Lisboa existe agora uma diferença, todavia. A existência do cargo exercido por Cathy Ashton pretende justamente harmonizar a política externa europeia, tornando-a menos permeável às flutuações inerentes à rotatividade da condução da política externa europeia. Qualquer sucesso concreto almejado pela UE neste domínio seria um selo de qualidade incontornável do mandato de Cathy Ashton. Para isso, seria importante negociar também com os israelitas. É que sem eles não há sequer uma perspectiva de solução.

Foto: EFE

Janeiro 25, 2010 Posted by | 1 | , , | Deixe um comentário

“Os senhores vierem até aqui porque nós dissemos que podiam mas agora não vão poder entrar”

Uma delegação de nove eurodeputados (de vários partidos e nacionalidades) que integram a delegação do Parlamento Europeu para as Relações com o Conselho Legislativo Palestiniano foi anteontem proibida de entrar em Gaza pelo governo israelita, umas três horas após este ter-lhes concedido autorização para entrar. Motivo? O de sempre: questões de segurança. Dá-se é a coincidência de neste espaço de três horas, lá longe, em Bruxelas, os Ministros dos Negócios Estrangeiros dos 27, reunidos em Conselho, terem defendido – uma vez mais – o estabelecimento de um Estado palestiniano nas fronteiras de 1967 e o fim da expansão dos colonatos israelitas na Cisjordânia – incluindo, naturalmente, Jerusalém Oriental (ver aqui as conclusões do Conselho). Imaginar a postura do governo israelita a tomar esta decisão, perfeitamente indiferente aos europeus, tentar visualizar a cena em que um representante do governo israelita vem dizer à delegação que, afinal, vieram de Bruxelas a pensar que iam entrar em Gaza mas já não iam entrar, é um esforço necessário para começar a tentar compreender a psique dos governantes israelitas. É uma cena típica de mais.  

Foto retirada de panoramio.com.

Dezembro 10, 2009 Posted by | 1 | , , , , | 1 Comentário

Al-Aqsa

DSC02715De acordo com a Estratégia Europeia de Segurança, de 2003, a “resolução do conflito israelo-árabe é uma prioridade estratégica para a UE, uma vez que, sem esta, haverá poucas hipóteses de lidar com outros problemas no Médio Oriente” (traduzo do inglês). Convém ter isto em mente quando se avalia a  actuação europeia na região. E convém também noção do passado, nomeadamente ter bem presente que a Segunda Intifada, que começou em Setembro de 2000, teve origem na Esplanada das Mesquitas.

Hoje, Javier Solana emitiu a seguinte declaração: I am very concerned about the recent clashes in East Jerusalem. I have been closely following the situation around the Al Aqsa mosque in recent days. I would like to urge all parties to refrain from provocative actions that could further inflame tensions or lead to violence. Everyone must take action to avoid escalation. Our continued priority remains the re-launching credible negotiations in an atmosphere conducive  to their success.” Muito cuidado.

Outubro 7, 2009 Posted by | 1 | , , , | Deixe um comentário

“Obama reúne-se em separado com Netanyahu e com Abbas”

Luís Costa Ribas há pouco, na SIC Notícias:

Obama não pode querer a paz mais do que os israelitas ou os palestinianos, e é isso que está a acontecer“.

Tal e qual. Quer dizer: poder, pode; não adianta é nada.

Setembro 23, 2009 Posted by | 1 | , | Deixe um comentário

De vez em quando lembram-se disto

seA Presidência sueca da UE veio hoje instar Israel e a Autoridade Palestiniana a “retomarem negociações, tendo em vista a criação de um Estado palestiniano viável, com base nas fronteiras de 1967, vivendo lado a lado em paz e segurança com Israel”. Além disso, e porque, pelos visto, “a UE permanece comprometida com a resolução do conflito”, vem solicitar a paragem imediata das actividades dos colonatos (criação, expansão, etc.), a continuação dos progressos palestinianos ao nível da segurança e da implementação do Estado de direito, e o cumprimento, por parte da comunidade internacional de doadores, dos compromissos assumidos anteriormente; encoraja ainda ambos os lados a tomar medidas que reforcem a confiança mútua. (Ler o comunicado aqui

A UE bate com a mão na mesa e pede tudo isto. Alguém a ouviu? De meio em meio ano, a mesma boa vontade. E que tal aprovar-se o Tratado de Lisboa, para ser sempre o mesmo a dar o murro na mesa, e não um diferente a cada seis meses?

Setembro 18, 2009 Posted by | 1 | , , , | 2 comentários

Não há processo de paz

west-bank-israeli-_1000389cÉ muito simples: enquanto houver crescimento de colonatos na Cisjordânia, não há processo de paz. Porque o “processo” que existe nesse caso vai contra qualquer perspectiva de paz. Neste momento, nem a mão miraculosa de Obama vale de nada: não há processo de paz. No conflito israelo-palestiniano poucas coisas são tão simples de entender.

JERUSALEM (Reuters) – Israel approved on Monday the building of 450 settler homes in the occupied West Bank, a move opposed by its U.S. ally and Palestinians but which could pave the way for a construction moratorium sought by Washington.

A Defense Ministry list of the first such building permits since Prime Minister Benjamin Netanyahu took office in March showed the homes would be erected in areas Israel has said it intends to keep in a future peace deal with the Palestinians.

Palestinian chief negotiator Saeb Erekat said Israel’s decision further undermined any belief that it is a credible partner for peace.”

Ler o resto aqui. Foto: REUTERS. Colonato de Ofra, na Cisjordânia.

Little boxes on the hillside,
Little boxes made of ticky-tacky,
Little boxes on the hillside,
Little boxes, all the same.
There’s a green one and a pink one
And a blue one and a yellow one
And they’re all made out of ticky-tacky
And they all look just the same

Setembro 7, 2009 Posted by | 1 | , , , , | 1 Comentário

Ainda os pressupostos de Oslo

INSSQuem procura apenas uma visão equidistante e (pretensamente) independente do conflito israelo-palestiniano não lê as publicações do Institute for National Security Studies, da Universidade de Tel Aviv – isto apensar de ter sido considerado pela Foreign Policy um dos 5 think tanks mais influentes do Médio Oriente. Mas conhecer os argumentos de ambos os lados (ainda que expostos em separado) é importante para se poder formar o nosso próprio juízo.

Uma das suas últimas publicações, Oslo Revisited: Are the Fundamental Assumptions Still Valid?, apresenta, todavia, um conjunto plausível e honesto de explicações para não-aceitação, por parte da Autoridade Palestiniana, da proposta de paz feita pelo ex-Primeiro-Ministro Olmert. Por muitos considerada uma proposta aceitável (literalmente), baseava-se sobretudo na admissibilidade de uma soberania internacional sobre a Cidade Velha de Jerusalém (onde se encontram os locais sagrados do Cristianismo, do Judaísmo e do Islamismo), da transferência, para a Autoridade Palestiniana, de entre 95,3 a 95,7% dos territórios ocupados, e da criação de um canal de ligação entre a a Cisjordânia e Gaza. A proposta não admitia o direito de retorno – mas quem já esteve em Israel sabe que isso é literalmente impossível. Neste mesmo instituto foi-me dito que, nos momentos que requerem uma tomada de decisão pragmática e impopular, sucessivos líderes palestinianos recuam perante a vertigem da resolução do problema.

Cinicamente, oficiais israelitas disseram-me igualmente que, para as lideranças palestinianas, a resolução do processo de paz implicaria um abandono dos palestinianos à sua sorte, o término dos rios de dinheiro internacional e o consequente fim de uma certa mordomia. Isto não subscrevo. Neste momento, um Estado palestiniano é social e economicamente inviável – mas não pode deixar de ter a oportunidade de superar essa condição por imposição israelita.  

Setembro 2, 2009 Posted by | 1 | , , , , | Deixe um comentário

Serviço Público

JAcoverA mais recente edição da Foreign Affairs (Julho e Agosto) traz um guia de leitura para o processo de paz do Médio Oriente. Em “What to Read on Middle East Peace Process“, o especialista do Council on Foreign Relations Steven A. Cook apresenta uma lista comentada dos livros fundamentais que abordam tanto o processo de paz como, mais abrangentemente, o próprio conflito israelo-palestiniano. Encontram-se autores americanos, israelitas e palestinianos, de Kurtzer e Lasensky a Dennis Ross, de Rabinovich a Edward Said, por isso há sugestões para todos os gostos. 

Julho 30, 2009 Posted by | Sem categoria | , | Deixe um comentário